Uma grande expressão caiu no meu colo sem aviso: “unnecessary finishing”. Eu traduziria como “conclusão desnecessária”. Nem todos vão sentir o choque do reconhecimento dessas palavras; algumas pessoas têm o dom natural de farejar o final do expediente e bater cartão sem hora extra, saem de cena com timing perfeito. Quem me dera: várias vezes ignorei meu corpo suplicando pelo fim, pedindo energia emprestada de copos, carboidratos e auras alheias. Ninguém mais deve na praça a mesma quantidade de energia para terminar tarefas e prolongar interações sem grande importância.
Soa como apologia ao desleixo ou vingança infantil de quem precisou acabar os legumes do prato para ganhar sobremesa. Mas a verdade é que a necessidade de um fim pode ser infantil. Bem como a obsessão, que muitas vezes tem raízes pueris. Abraçar incompletudes é de outra ordem.
De outra ordem é aceitar que o silêncio pode ser um fim.
Aceitar que a página em branco pode ser um fim.
O rascunho de um quadro encostado na parede juntando poeira, o projeto de viagem que nunca saiu do papel, a proatividade performática na rede social profissional, os contatos sem reciprocidade de conversas, as verduras apodrecendo na geladeira esperando a dieta que vai começar na próxima segunda, as crenças que não fazem mais sentido podem ser o fim do que podemos ter escolhido não porque realmente queríamos, mas porque nos condicionamos a achar bom querer.
Aceitar que o desapego é um fim. Às vezes, o fim real só acontece depois desse desapego. Às vezes, o desapego sempre foi o objetivo cósmico.
Aceitar que outro começo pode ser o único fim possível.
Nem tudo o que começa tem que
Para respirar é preciso inspirar e expirar o gás carbônico que já não nos serve. Como tudo na vida. Não podemos viver num andamento infinito sem renovação. Concordo
Adorei!!! ❤️